terça-feira, 17 de novembro de 2009

The Race

Como nota previa, o post é comprido... as fotos tão a ser preparadas

O Portalegre, por se assemelhar a um etapa do Dakar, sempre foi a corrida que quis fazer. Se fosse só uma seria esta, de modo que quando me deu na veneta fazer algo foi a escolha natural.
Nunca tendo feito nenhuma corrida tudo nisto foi um processo de aprendizagem, quase 100% autodidata, se “tirarmos” duas aulas com o Bernardo Villar, vi tudo na net, revistas, tv... tudo serviu para aprender. Perdi peso (20kg), treinei durante o verão com calor, afinei e experimentei carradas de coisas...

No mês anterior só pude treinar o fisico, e mesmo assim.... foi com autodisciplina, vim para a Holanda e a mota foi para a revisão, esta parte foi do pior, ter de trabalhar longas horas super concentrado e não pensar muito no sonho, não ir a oficina ver, acompanhar e, sobretudo, não andar nela durante aquele mês e não “testar” as alterações.
Mas tudo foi feito e na quarta-feira antes da prova aterrei em Lisboa, cansado, stressado, com a adrenalina ao máximo.
Quinta de manhã a abrir a festa, o primeiro stress, assim que moto sai da oficina, ainda no asfalto noto comportamento muito diferente, pedi para sero montada uma “mousse” antifuros nos pneus, que eram novos, o que fez com que ficassem excessivmente duros... mesmo com os cuidados da praxe; tunga... uma queda mesmo a chegar a casa. Apesar de muito devagar deu para partir um apoio da manete da embraiagem, NUNCA parti uma na vida, sempre parti a manete do travão, nunca aquela porcaria, alias a manete não partiu, quem partiu foi o apoio daquela gaita. Como gajo prevenido tinha um de reserva mas fiquei sem suplente e com o ego muito amolgado. Ainda não tinha começado e já tinha partido a mota... bonito servico. Lá consegui cravar um igual na oficina para suplente e lá me fiz ao caminho.
Primeiro km a caminho de Portalgre primeiro furo no atrelado... isto estava a correr bem. Resolvido o assunto telefono a uma amigo que me diz que não posso chegar depois das 2 da tarde... por causa da acreditação e mais bla bla bla. Resultado, fui a abrir ate Portalgre autoestrada fora.
A chegada a Portalegre, como é obvia só podia ser em estilo, assim que passa a placa que diz “Portalegre”, a seguir a rotunda, POFFF mais um pneu do atrelado que rebenta em grande estilo, vejo a mota dar um salto no atrelado e quase se parte tudo. Mas não partiu e lá fui eu em cima da jante, a saltar faiscas e com tudo a olhar, à procura do secretariado que não fazia puto de ideia onde era.

Passo seguinte, verificacões tecnicas e afins... podia dizer uma carrada de coisas sobre essa parte. Essencialmente tive de comprar um “tapete ecologico” especial de corrida para por a mota nos reabastecimentos (mais 25 €) e depois de gastar uma pequena fortuna nos pneus havia sérias duvidas se me deixariam partir para a prova por os pneus não serem ecologicamente certificados. Isto, além de me deixar os nervos a flor da pele, só ficou decidido lá pelas 11 da noite, altura em parti em busca do Turismo rural no Crato... que foi outra odisseia. Deitei-me tarde e a ferver, acordei as 5h30 e ala para a proxima etapa, o prólogo.

Nesta altura já tinha alguém para dar assistencia, o Zeto lá estava, como sempre, a dar apoio. A primeira coisa que me disse foi algo como “nao tas lá muito fresco...”, e lá fomos ver onde era o prólogo, deu para acalmar e preparar as coisas. No dia anterior toda a gente tinha feito o reconhecimento do prologo, a pé ou de scooter, para saber ao que ia, eu não tive tempo, mas como a ideia era terminar não fazia grande diferença...
Na partida, toda aquela emoção do começo rapidamente desapareceu, e logo na primeira curva ia partindo a loiça toda, só por milagre ou sorte (eu por acaso gosto de pensar que foi por causa do meu extraordinario talento...) não aconteceu nada. A mota estava radicalmente diferente na qual tinha treinado... os pneus faziam muito mais diferença do que previ e os “settings” da suspenção tavam todos mal. Não dava para deitar a mota nas curvas porque saia demasiado de frente... o se dava gas atravessava-se, fiz o resto do caminho com calma e não parti mais nada. O tempo que foi dos ultimos e assim no dia seguinte parti demasiado atrás... e no pó.
O resto do dia foi gasto a preparar o sábado e a ver um pouco os carros a andar, nessa altura senti-me cansado, pensei mesmo que seria um calvario o dia seguinte...
Durante a tarde chegaram os meus pequenos, com a Marta e a Fatima, durante a noite o meu irmão que tinha voado nesse mesmo dia de Amsterdão... o Rui chegaria na manhã seguinte.
Quando o sol nasceu no sábado eu já estava no parque de assistencia a preparar tudo para que pudesse passar a pasta à entourage. Depois de dar as indicações ao eng chefe (o mano) lá fui eu buscar a moto ao parque.
Durante a noite pensei no que podia mudar na moto de modo a tornar as coisas mais confortaveis, já depois do prólogo tinha feito algumas, de modo a tornar a montada mais guiavel e voltei a mexer antes da corrida, consegui compensar um pouco a dureza dos pneus, não tava nenhuma maravilha, mas menos sabia que não furava.
A partida foi normal, parecia uma filme, o relogio em contagem regressiva, o sinal de partida e gááás... lá fomos nós.
Os primeiros km foram feitos devagar, depois de tudo o que li, e ouvi, sabia que a corrida começava do meio para lá. Fui passado por algumas motos mas à medida que fui ganhando confiança fui aumentando o ritmo e comecei a passar algumas das que me tinham passado.
Apareceram os primeiros acidentes, colegas estendidos, sempre lembretes sérios do que pode acontecer quando as coisas correm mal. Fui passando mais algumas motos a certa altura achei que já estava a passar gente a mais e abrandei um pouco e comecei a ser apanhado pelas moto4.
O piso estava muito seco e o pó que levantavam era mais que muito, cada vez que que uma passava deixava de ver a estrada, até que houve uma que me passou, à saida de uma curva que antecedia uma descida esburacada (do que me lembro) o pó foi tanto que tentei levantar-me na moto para ver melhor e absorver melhor algum buraco. Nem vi o que aconteceu. Só me senti ser catapultado com toda a força para o chão. No principio não conseguia respirar, a pancada foi enorme, 3 semanas depois ainda me doi o peito/costoletas. Quando consegui respirar a dor pelo corpo era tanta que só conseguia berrar... comecaram a chegar motos, só ouvia tas bem ? tas bem? Eu cá continuava no berreiro. Até que alguém disse "aguenta que vamos chamar a ambulancia".
Nesta altura acendeu-se a luz, ambulancia? Desistir? Isso é que não!!!! Só me ocorreram asneiras, disse umas quantas ca... asneiradas. O pessoal percebeu e ajudou-me a levantar, levantou-me a moto e toca a andar. Gostaria de agradeder a todo o pessoal, que faço a minima ideia de quem sejam, a ajuda...
Na moto faltava a manete do travão e algumas ferramentas tinham saltado durante a queda de modo que não consegui montar a suplente, tive de fazer mais uns km sem travão da frente até que me ajudaram a montar a dita. O guiador estava dobrado como nunca vi igual.
Daí para a frente foi sempre a andar... caí mais uma vez, pelo mesmo motivo (uma moto4 tocou a roda da frente numa curva) mas foi sempre a crescer, sempre a abrir.
A assistencia, sempre profissional, portou-se impecavelmente... sempre tudo pronto, muitos miudos a fazer de claque. A Marta a fazer-me comer as coisas certas... a ralhar que não tinha bebido o suficiente naquela etapa, que o camelback tava cheio. O mano a dar as indicações para o troço seguinte, para ter cuidado... O Rui de olho na mota e a colar bocados, o Zeto a lubrificar a corrente a cada paragem, a gasolina. Foi tudo perfeito.
O cansaço dos primeiros km foi dando lugar a uma frescura inusitada, a uma maior concentração... sempre sem fazer erros, não ia depressa, já tinha partido muitas das pecas suplentes, e o guiador estava muito dobrado, mas disfrutei. Disfrutei de cada metro daquelas 7 horas... soube bem, gostei, adorei aquilo tudo e no fim estava preparado para mais km.
Gostei de ir pela pista fora, estrada aberta, sem limites sem ser o meus.É algo que é dificil de definir e que cada uma valoriza à sua maneira, eu cá gosto e não há muito mais a por em palavras, só no mar é que sinto esta liberdade.... mas isso é outra historia.
A todos os que lá foram ajudar... obrigado, por tudo, por lá terem estado, pelo apoio e pela amizade. Como alguém que as vezes por aqui passa escreve "Friends dont let friends do stupid things... alone".
Fomos todos putos outra vez....
Para o ano... vou fazer por estar de volta. Aceitam-se inscrições para o team, alguém interessado?

2 comentários:

Maria disse...

De todo, obrigada, mas fico a torcer pela tua equipa.

bj

Rui Silva disse...

Hahaha, fartei-me de rir, revivi alguns bocados, é tal e qual assim. Acredita, quando fizeres isso mais descontraido ainda vai saber melhor. Mas atenção!!....nessa corrida, um amigo meu inutilizou os movimentos de um braço! e eu fui parar ao hospital de portalegre...mas acabei a corrida!. A assistencia estar lá na hora certa é muito bom, se puderes faz o Gois, é mais calma (mais barata)e um espetaculo para os olhos.Temos que ir dar umas acelaradelas!. Só uma dica...nunca se altera a mota antes de uma corrida, as experiencias fazem-se antes.